Carta 1 de alguém em obras

 

30 de Setembro de 2020

Não sei você, mas inícios para mim não são tão fáceis. Começar amizades, relacionamentos, conversas, dar o primeiro passo requer muito de mim. Começar a escrever é difícil (o que falar? será que faz sentido? mas e se...? e se?), mas se tem algo que durante alguns anos tenho aprendido é que, se eu não começar, nunca sairei do lugar, nunca saberei qual caminho tomar, nunca verei nada, então mesmo que não saiba agora exatamente o que vai acontecer daqui a algum tempo, seja ele daqui uns meses ou anos, eu tenho que começar a andar agora, para poder chegar lá. 

Okay, mas voltando aos "e se's". Se pararmos para pensar em todos eles, vamos tomar um tempão das nossas vidas e, quanto mais vermos ambas as possibilidades, boas e ruins, acabaremos chegando a conclusão de que não chegamos a conclusão nenhuma, por que o que faz nosso caminho são justamente nossas escolhas (que tanto nos recusamos em fazer). Talvez você não entenda, não seja o seu caso agora, mas também, talvez já sentiu ou irá sentir em algum momento. Sempre que nos depararmos com bifurcações e precisarmos escolher qual caminho ir, sem chance de volta, sentirá seu coração duvidar de você mesmo.

Mas está aí o ponto que vou desenvolver (espero melhorar com o passar do tempo minha explicação sobre o assunto), é que devemos começar, mesmo sem saber o que irá acontecer, e isso não quer dizer que podemos tomar qualquer decisão e atitude imprudente ou impensada, nada disso. Todo o meu pensamento está em enfrentar o medo de dar os passos que precisam ser dados. Como humanos, o medo nos protege, até certo ponto, mas precisamos saber quando ele está tentando nos controlar e o quanto estamos permitindo. 

Como cristã, tenho amadurecido ferozmente nos últimos anos, e as experiências vividas me trouxeram aqui. Precisei dar os passos inseguros, mas que tem um diferencial que faz tudo mudar, agora eu estou confiando totalmente nEle. Jesus nos chama para as paradas mais loucas que poderíamos fazer. Ele nos chama para andar sobre as águas como Pedro, porém mais radical ainda, Ele nos chama para caminhar no invisível.

Imagine que você ouve uma voz, e ela te chama para andar, sem te dar destino, apenas diz para você confiar que há um destino e que não estará sozinho em nenhum momento sequer da jornada. As instruções são para que você siga, sem parar, apenas siga. Depois de muito caminhar, mas muito caminhar mesmo, você cansado perceba que já faz um tempo que não ouve nada, não vê ninguém por perto e se depara apenas com uma montanha enorme, a instrução foi siga, e agora, depois do cansaço, você comece a se perguntar se faz sentido continuar. Não tem provisão, não está equipado para subir, nem muito menos sabe o que poderá acontecer no percurso, além de ser um caminho muito longo. Mas algo dentro de você te faz lembrar que o comando foi seguir, e num ímpeto, cala a parte que diz para parar, e segue. A montanha é muito alta, e intempéries diversas acontecem, sua confiança do inicio da jornada já não é a mesma, o vigor também não, os medos mediante a situação aumentam e você começa a se questionar se tomou uma boa decisão, mas a instrução ainda é: siga em frente. Depois de querer desistir, de se perguntar "zilhões" de vezes se fez o certo, você chega ao topo, e pensa: finalmente, cheguei, e deve ter algo que vale a pena aqui. Mas aí você ouve mais uma vez: siga. Mas seguir para onde? se continuar verá que o chão rochoso dali a um tempo, ao olhar para baixo, é apenas queda livre. E agora? Seguir seria loucura sabendo que naturalmente as leis da gravidade cobrariam um preço caso quisesse confrontá-la. 

Mas é aí que entra o extraordinário, quando o possível já foi, e depois de muito divagar sobre voltar, ficar parada ali ou seguir, você decide enfrentar os medos, a razão, num ímpeto só, fecha os olhos e vai. Esperando a sensação de queda, do vento, e do impacto, você perceber que continua ali, e dá mais um passo, e continua ali, e mais três passos, ainda continua ali e decide abrir os olhos, olha para baixo e não vê mais chão, e mesmo assim você continua ali. O que era medo agora se transforma em curiosidade e surpresa, então você começa a andar de olhos abertos e a se maravilhar com o impossível: andar no invisível.

Para isso, claro que precisamos escolher caminhar com Jesus, confiar inteiramente, obedecer. Ele nos chama a começar sem ver, mas crer que estamos seguros debaixo de Suas mãos. O invisível debaixo dos nossos pés, são Suas mãos nos fazendo viver o impossível. Mas então quer dizer que precisamos ir a um penhasco e nos jogarmos para ver? Não, e sabemos disso. O que quero dizer é que muitas vezes Deus vai apenas nos dizer para confiar, sem entender ou  ver, e muitas vezes duvidaremos de nós mesmos, iremos querer desistir devido as dificuldades que surgirão, mas se Ele disse para ir, seguir, é o que devemos fazer. Ele não nos abandona, e nos convida a começar, mesmo não nos sentindo prontos, pois se esperarmos essa sensação, podemos nunca começar.

Ele me disse para confiar de todo o meu coração, e eu fui. Ele me disse para me entregar, e eu o faço. Ele me chamou para andar no invisível , e eu aceitei. Agora, Ele me disse para escrever, e eu comecei. O que você precisa começar? Quando O busquei, encontrei colo, abrigo, amor, aprendo cada dia a ouvir Sua voz. Não te digo que foi rápido ou fácil, porque não foi, eu precisei começar a orar sem jeito, a buscar achando que não teria reposta, a lutar contra minha carne e meus medos, perdoar a mim e a outros, corrigir falhas e é um processo que vai durar. Mas começar me fez encontrá-lo e agora sei que mesmo que eu não me sentisse pronta lá atrás, não estaria escrevendo aqui hoje. Eu estava perdida em mim, quando O encontrei eu também me encontrei e no momento em que senti esse amor, não consegui mais querer ser a mesma. Minha recomendação? Comece, comece buscando Jesus, você vai se surpreender. 

Aqui começa uma jornada. Primeira carta, de quantas não sei...



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