O luto

O processo do luto não é linear, não segue uma sequência e não tem tempo para terminar. Quando falamos em luto, falamos em perdas, seja por pessoas que se foram ou aquelas que ainda vivas, por algum motivo já não estão mais em nossa trajetória. 
O que posso dizer com firmeza é: o luto é necessário e ele dói.  
Há 5 etapas do luto: negação, barganha, raiva, depressão e aceitação. Creio que a mais difícil e mais desejada é a aceitação, quando pensamos que poderemos finalmente viver sem lembrar, sem sentir, mas na verdade a aceitação não leva embora a dor, a falta, ou a saudade, apenas aprendemos a lidar e não sermos mais regidos pelo sofrimento, damos novos significados e passamos a viver de uma nova forma. 
Acho que a coisa mais tola é a barganha, principalmente quando tentamos fazer isso com Deus, logo Ele que não precisa de nada que podemos oferecer, e a mais sofrida é a negação, que traz a falsa sensação de superação e força que logo são roubados pela depressão. E quão cruel ela é,  roubando toda a esperança e força que pode nos restar.
Eu estou vivendo um luto, mais uma vez. Na verdade comecei a viver antes mesmo da morte chegar, até perceber que precisava viver cada dia tão intensamente ao ponto de crer que aquele dia era único. E realmente era.
Vivi cada dia como uma dádiva, um sinal claro da misericórdia de Deus se renovando, agradecendo cada momento, mesmo que difícil e superando todas as noites o cansaço avassalador de não ter descansado um minuto a mais. E posso dizer que valeu a pena doar cada esforço e fazer o melhor que podia. Mas quando o cansaço extremo dá lugar a calma extrema, o lugar ocupado agora se encontra vazio, a presença em ausência. É quando todo o peso da realidade dá um abraço de adeus. O luto chegou.
Ninguém ao redor está preparado o suficiente para perder, mas ter que lidar com alguém em luto é desnorteador, e eu vi nas ações, nos olhares e até na ausência. As pessoas não estão preparadas para lidar com alguém que sofre e foi nessa tentativa de aliviar o fardo dos outros ao lidar comigo que comecei a carregar mais pesos ainda. Ninguém consegue entender um coração cansado que ainda se preocupa em ser uma constante preocupação. Eu queria dizer: está doendo, é estranho, mas estou bem, bem melhor do que um dia poderia imaginar esse momento ou que o máximo que eu podia era aquilo que eu estava oferecendo, em presença, em ausência, em silêncio, em proximidade ou distancia. Mas não adiantava. Ninguém conseguia entender, então fui desistindo de fazer com que entendessem. 
Com o tempo, fui aprendendo a lidar melhor com minhas conturbadas emoções, com a rotina nova, com a vida diferente, e entendendo que a partir daquele dia, tudo havia mudado e mesmo que eu tentasse, não conseguiria ser a mesma de antes. Eu precisava encontrar o caminho de volta. E assim tem sido, uns dias melhores que outros, mas em absolutamente nenhum Deus largou minha mão, mesmo quando tentei fazer isso, Ele segurou firme e tem guiado minha vida. 
O luto continua, nada linear por aqui, porém mais suportável se tornando saudade.  A dor propriamente dita da perda foi breve, por ter a certeza de que a separação é momentânea. Quem crê em Cristo sabe que ansiamos o dia em que poderemos estar juntinho dele, e isso aquece meu coração. Por isso, nunca consegui me ressentir pelas perdas das pessoas que amei, por saber que estão no melhor lugar que poderiam estar.
O medo do futuro tem dado lugar novamente à esperança de viver os planos do Senhor, mas esse papo é para um outro momento.
Para você que está vivendo o luto, quero que saiba de uma coisa muito importante: a vida continua. 
Você vai sentir que não vai conseguir dar conta e descobrir que vai sim. Vai sentir que a dor nunca vai passar, mas nenhuma tempestade é eterna. Quando você pensar que é o fim, olhe novamente e verá que sempre haverá novos começos, novos dias, uma nova história.

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